terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Presidente da Itália pede a premiê Renzi que adie renúncia






O presidente italiano Sergio Mattarella em coletiva de imprensa em Jerusalém.

Foto: AFP

O presidente da República italiana, Sergio Mattarella, pediu ao primeiro-ministro Matteo Renzi, na segunda-feira (5), que adie sua renúncia até a aprovação da Lei Orçamentária 2017 - informaram fontes oficiais.

Com isso, o premiê deverá permanecer no poder por mais alguns dias a pedido de Mattarella. Renzi anunciou sua decisão no domingo (4), depois de perder, na véspera, um referendo sobre a reforma da Constituição.

Único com poder de dissolver o Parlamento, convocar eleições antecipadas e designar seu sucessor, o presidente considera uma prioridade que se respeite uma série de compromissos que garantam a estabilidade econômica da terceira economia da eurozona.

"Diante da necessidade de completar o processo parlamentar para a aprovação da Lei Orçamentária, o presidente da República pediu ao primeiro-ministro que adie sua renúncia até que se cumpra esse requisito", de acordo com a nota divulgada pela assessoria da Presidência.

"Aceitei por senso do dever", disse Renzi a seus ministros, segundo fontes parlamentares.

O longo dia do premiê se iniciou com uma reunião informal com Mattarella e terminou com um segundo encontro com o presidente da República, árbitro da crise política após a fragorosa derrota sofrida por Renzi na consulta popular.

"Minha experiência como chefe de governo acaba aqui", anunciou Renzi no domingo (4), pouco antes de saber oficialmente que o "não" à "sua" reforma constitucional havia conseguido 59,95% dos votos.

"Assumo a responsabilidade da derrota", admitiu.

Sua saída agita o mundo político e gera muita incerteza, inclusive nos mercados. Ainda assim, sem a renúncia formal, o clima político "se congela" por alguns dias, permitindo que todos os partidos baixem o tom do debate, após uma tensa campanha que dividiu o país em dois.

Não se exclui que Mattarella convoque eleições antecipadas, mas o mais provável é que nomeie uma personalidade acima dos partidos para que dirija "um governo técnico" encarregado de reformar a atual lei eleitoral.

O partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e a formação de extrema-direita da Liga Norte reivindicam eleições antecipadas, aproveitando a onda de insatisfação expressa nas urnas.

"Vamos fazer de tudo para ganhar as eleições, o programa de governo e sua equipe. Vamos votar na próxima semana pela Internet", anunciou o líder do M5S, Beppe Grillo, em seu blog.

Segundo as últimas pesquisas, o M5S sairia vencedor das eleições, uma tendência que os analistas comparam com o que aconteceu na Grã-Bretanha, com o Brexit, e nos Estados Unidos, com a vitória do republicano Donald Trump.

'Frustração e insatisfação'

Outros partidos parecem estar de acordo com designar um governo de transição que reforme a complexa lei eleitoral.

Entre os nomes cogitados pela imprensa para chefiar o governo, está o do ministro das Finanças, Pier Carlo Padoan, de 66 anos, que anulou sua participação na reunião do Eurogrupo em Bruxelas para ficar em Roma. Outro nome na mesa é o do presidente do Senado, o ex-magistrado antimáfia Pietro Grasso, de 71, uma figura institucional.

Essas nomeações poderiam servir para tranquilizar os mercados, que temem uma nova fase de instabilidade política em um dos países fundadores da União Europeia.

Nesta segunda de manhã, a Bolsa de Milão abriu em baixa de 1,29%, com a maioria dos bancos no vermelho, mas recuperou seu fôlego rapidamente. Apesar disso, as taxas de juros dos títulos da dívida com vencimento para dez anos subiram, sem disparar.

O ministro alemão das Relações Exteriores, Franck-Walter Steinmeier, considerou nesta segunda-feira que "podemos nos alegrar que os eleitores austríacos não votaram no candidato das forças populistas, mas vemos o resultado na Itália com preocupação".

"Não é uma mensagem positiva para a Europa, em tempos difíceis", completou Steinmeier.

Após passar pouco mais de mil dias como primeiro-ministro, superado apenas por Bettino Craxi e por Silvio Berlusconi, Matteo Renzi deixa para trás uma Itália que conseguiu recuperar o crescimento, mas não o suficiente para mudar a situação do país.

Chegou ao poder em fevereiro de 2014 com um programa repleto de reformas. Apesar de seu empenho e energia, não conseguiu convencer a população.

Da extrema-esquerda à extrema-direita, passando até mesmo por seus correligionários, do Partido Democrático (PD), a maioria da classe política era a favor do "não" à reforma, a qual - alega-se - concedia poder demasiado ao chefe de governo.

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Oleh

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